By Rose Gimenes
A presente resenha vem fazer uma análise do artigo Politics of the English Language escrito por Kanavilil Rajagopalan e publicado na Revista CLARITAS, v. 13 n.1. Trata-se de uma publicação semestral pelo Departamento de Inglês da PUC SP cujo objetivo é a divulgação, reflexão e crítica sobre as diversas formas de expressão cultural em língua inglesa, vistas sob diferentes ângulos e abordagens teóricas e/ou práticas.
Neste artigo, o autor propõe uma reflexão acerca da política da língua inglesa no mundo de hoje diante do fenômeno da globalização. Paradoxalmente, o autor traz a tona publicações muito anteriores ao referido fenômeno mas que carregam em seu bojo a preocupação com os rumos tomados pela língua inglesa em um mundo em constante mutação. Autores como George Orwell, Charles Dickens, Bridges já se preocupavam há décadas com o que chamavam de degradação da língua inglesa. Rajagopalan também cita exemplos do cinema em que a preocupação com o bem falar aparece como no filme My Fair Lady citando como exemplo, a cena em que Prof. Higginspergunta “Por que os ingleses não conseguem ensinar a falar os seus filhos?”
O autor inicia seu trabalho fazendo um relato do artigo publicado por Orwell há cerca de seis décadas que também dá título a este trabalho: Politics of the English Language. Neste artigo, vemos Orwell preocupado com a degradação da língua em conseqüência da expansão de seu uso em todas as partes do planeta. Segundo Orwell, a língua estaria sendo dissipada, transformada para pior pelo mau uso não apenas por parte de outros povos, mas devido à negligência e falta de vontade política de seus próprios falantes. Orwell defende veementemente a proteção da integridade da língua e faz algumas recomendações para deter o processo de degradação em que esta já se encontrava há sessenta anos como evitar o uso de termos advindos de outras línguas como o latin, quando houvesse equivalentes disponíveis na própria língua. Desta forma, sucedendo Dickens e também Bridges, famoso poeta e dramaturgo inglês, Orwell posiciona-se como guardião da língua e conclama seus falantes a fazer o mesmo.
Feita esta contextualização, Rajagopalan passa a considerar o panorama atual da língua inglesa e sua apropriação por parte dos povos que dela se utilizam para comunicar-se no mundo globalizado e tecnológico em que vivemos.
Rajagopalan nos mostra que nem todos os autores compartilham com a visão de que a língua inglesa está se degradando. Ao contrário, o inglês do mundo, não é propriedade de um povo em particular mas de todos os que a utilizam e é segundo este conceito que as políticas contemporâneas envolvendo o estudo, o ensino e o uso da língua inglesa têm seu lócus. É perfeitamente concebível e esperado que os povos se apropriem do idioma e o trasnformem, incorporando expressões de sua própria língua ao inglês. Portanto, fenômenos como Spanglish, Japlish, Hinglish não têm nada de degradação, mas uma conseqüência natural quando uma língua se propõe a ser utilizada como língua franca.
Em seu artigo, outro mito sobre qual Rajagopalan discorre, é o de se aprender língua inglesa para comunicar-se com falantes nativos. No mundo globalizado em que dois terços dos falantes do idioma não são nativos, esta idéia torna-se ultrapassada, não há sentido em imitar o falar deste ou daquele povo quando a grande maioria dos falantes da língua inglesa é pelo menos duas vezes maior que o número de seus falantes nativos.
O texto traz grande contribuição para educadores, lingüistas e pessoas preocupadas com os rumos do ensino de língua inglesa de modo geral, pois o autor traça o histórico de uma discussão que nunca foi tão atual desde seus primórdios ilustrando-a com passagens de textos e pontos de vista de autores importantes do passado que já se preocupavam com o tema, e também pontos de vista de autores da contemporaneidade que nos ajudam a concluir que estamos vivendo um momento de rico de contribuições e não de degradação lingüística.